02 junho 2007
Manter as tradições da nossa terra é o mais importante
Presidente reeleita na Casa do Povo do Paul
Todos os espectáculos do Rancho Folclórico da Casa do Povo do Paul (Covilhã) incluem representações teatrais (quadros) que mostram como era a vida antigamente, na aldeia, hoje vila. “É uma questão de identidade, que nós temos o dever de preservar”, refere a presidente. Ao Diário XXI, Leonor Narciso revela alguns dos planos para os três anos de mandato que tem pela frente Liliana Machadinha
Sem uma data precisa de fundação, sabe-se pelos documentos reunidos que o Rancho Folclórico da Casa do Povo do Paul foi criado propositadamente para participar no concurso da “Aldeia mais Portuguesa”, em 1938. Desde esse ano, não parou, apesar de épocas de adormecimento e de menor expressão fora da vila. Mas a revolução no seio do grupo chegou em 1977 com a integração do rancho na Casa do Povo e com a questão: o que deu origem a estas danças e cantares? A presidente da direcção da Casa do Povo, Leonor Narciso, entrou no projecto nesse ano, com outros amigos. Já na altura “parecia faltar algo nos espectáculos” e, por isso, decidiram procurar as raízes das tradições, dos trajes e das cantigas. Segundo recorda a presidente, as pessoas que fundaram o grupo apresentaram no concurso da “Aldeia mais Portuguesa” vários quadros representativos das tradições do Paul. “Havia representações das mais variadas situações, como os trabalhos no campo, artesanato, jogos tradicionais, festejos religiosos e tudo a condizer com os cantares e com os trajes”, conta.
Apesar do trabalho de investigação e compilação dos dados – informação conseguida através da colecção de José Rocha, um dos fundadores do rancho e que foi doada ao grupo depois da sua morte -, a tradição só voltou a ser o que era em 1938, devido a um desafio lançado pelo INATEL. Assim, os quadros voltaram a ser representados em 2000, completando os espectáculos.
RANCHO SÓ SOBE AO PALCO JUNTAMENTE COM TRADIÇÕES
“O grupo tem a preocupação de saber que época é que quer representar”, explica a presidente, ao referir que se reproduzem os trajes desde o início do século XX, “da forma mais fiel possível”, seguindo os registos históricos, nomeadamente fotográficos. Mas, alerta, “há que ter o cuidado de não ridicularizar os nossos antepassados e tradições. Se vamos retratar uma romaria, há que vestir os trajes de festa e não o da monda e do sacho às costas”, exemplifica Leonor Narciso.
Actualmente não há um único espectáculo onde sejam interpretados apenas as danças e os cantares. “Recusamo-nos a fazê-lo nessas condições. Ou nos deixam mostrar os quadros com as tradições da terra e as danças e cantares como complemento ou não há espectáculo”, garante Leonor Narciso. E explica: “É uma questão de etnologia e de identidade, que nós temos o dever de preservar”.
Depois das eleições, há duas semanas
Sangue novo para preservar tradições
Depois de eleita, no último dia 20, para mais três anos à frente dos destinos da Casa do Povo do Paul, Leonor Narciso salienta uma das novidades: há mais jovens nos cargos directivos. Segundo explica, “é necessário sangue novo” para, no futuro, dar continuação às tradições do grupo. “Espero aprender com eles e ensinar-lhes muita coisa, para que não se perca o espírito deste rancho”, realça. “Um dia, quando eu sair da Casa do Povo, esta casa não pode parar, até porque já tem um imenso património tanto em edifícios, como de âmbito cultural”, adianta. No total, Leonor Narciso conseguiu integrar seis jovens na nova direcção, todos já pertencentes e membros activos nas actividades da colectividade.
Para além desta, levanta um pouco o véu de um dos projectos, que apesar de estar em fase embrionária, já suscita entusiasmo no seio do grupo e que se relaciona com o objectivo anterior. Trata-se de intercâmbios internacionais de jovens, através do Instituto Português da Juventude. Para tal, “precisamos de pessoas mais novas que exponham os seus interesses de forma a cativar os jovens estrangeiros a visitarem o Paul”.
Outro projecto que não passa esquecido nas propostas para os próximos três anos de mandato de Leonor Narciso é o “Chão do Canto”, uma mostra etnográfica que pretende ilustrar o ciclo da vida tradicional e promete “integrar (o espectador) na vivência do povo”. O espectáculo representa o Natal, passando pelo cantar das Janeiras, entrudo, período pascal, retorno às lides agrícolas, finalizando com a Romaria da Senhora das Dores, em Julho. Pela abrangência das tradições, a mostra decorre ao longo de duas horas e, para a presidente, “é o mais completo do rancho, pois representa todas as raízes do Paul”.
Festival vai para a sexta edição
“Sons da Terra” regressam com workshops
Também o festival “Sons da Terra” tem continuação e está já agendado para o fim-de-semana de 21 e 22 de Julho, um pouco mais tarde que o habitual (o mês de Junho) devido às actuações agendadas, nomeadamente, do grupo de bombos do rancho, que trabalha em parceria com a companhia de teatro Viv'Arte, recriando feiras medievais por todo o País. Nesta sexta edição, o festival regressa com algumas novidades: workshops gratuitos, na área da percussão e gaitas de foles, que irão decorrer no sábado. Os “Sons do Vagar” (vozes com contrabaixo), um grupo de gaitas de foles e os anfitriões - em que se incluem os bombos, as adufeiras, os “Folia Tradicional” que (misturam música tradicional com sons celtas) e os “Tralha Velha” - irão actuar na tarde de domingo.
Concurso “Aldeia mais Portuguesa”
Quando o Galo de Prata voou para Monsanto
A história foi passando de boca em boca entre os paulenses. Segundo contam, em 1938, o Galo de Prata – símbolo atribuído ao vencedor do concurso “Aldeia mais Portuguesa” - foi para Monsanto, “porque um dos júris era de lá e influenciou a decisão dos restantes”. O concurso foi organizado pelo Secretariado Nacional de Informação (SNI), órgão do Estado Novo, responsável pela construção da imagem cultural de Portugal (principalmente no âmbito internacional).
“O Paul foi roubado”, uma teoria que inspirou vários poetas, nomeadamente José Rocha, que até escreveu uma marcha sobre o resultado do concurso. Com o título “Cantando espalharei por toda a parte”, escreveu numa das estrofes: “Ainda bem que não tens «galo de prata», Podia alguém julgar que era de lata, E tu mereces bem um «galo de ouro»”. Segundo Leonor Narciso, esta situação deu azo a disputas entre as duas aldeias durante muitos anos. “Aqui ninguém podia sequer ouvir falar em Monsanto, mas essa rivalidade já passou”.
Ficha Técnica
Fundação: 1938
Morada: Beco do Quebra Costas, nº 5, 6215- 445 Paul
Sócios: 200
Quota anual: Seis euros
E-mail: cppaul@sapo.pt
Todos os espectáculos do Rancho Folclórico da Casa do Povo do Paul (Covilhã) incluem representações teatrais (quadros) que mostram como era a vida antigamente, na aldeia, hoje vila. “É uma questão de identidade, que nós temos o dever de preservar”, refere a presidente. Ao Diário XXI, Leonor Narciso revela alguns dos planos para os três anos de mandato que tem pela frente Liliana Machadinha
Sem uma data precisa de fundação, sabe-se pelos documentos reunidos que o Rancho Folclórico da Casa do Povo do Paul foi criado propositadamente para participar no concurso da “Aldeia mais Portuguesa”, em 1938. Desde esse ano, não parou, apesar de épocas de adormecimento e de menor expressão fora da vila. Mas a revolução no seio do grupo chegou em 1977 com a integração do rancho na Casa do Povo e com a questão: o que deu origem a estas danças e cantares? A presidente da direcção da Casa do Povo, Leonor Narciso, entrou no projecto nesse ano, com outros amigos. Já na altura “parecia faltar algo nos espectáculos” e, por isso, decidiram procurar as raízes das tradições, dos trajes e das cantigas. Segundo recorda a presidente, as pessoas que fundaram o grupo apresentaram no concurso da “Aldeia mais Portuguesa” vários quadros representativos das tradições do Paul. “Havia representações das mais variadas situações, como os trabalhos no campo, artesanato, jogos tradicionais, festejos religiosos e tudo a condizer com os cantares e com os trajes”, conta.
Apesar do trabalho de investigação e compilação dos dados – informação conseguida através da colecção de José Rocha, um dos fundadores do rancho e que foi doada ao grupo depois da sua morte -, a tradição só voltou a ser o que era em 1938, devido a um desafio lançado pelo INATEL. Assim, os quadros voltaram a ser representados em 2000, completando os espectáculos.
RANCHO SÓ SOBE AO PALCO JUNTAMENTE COM TRADIÇÕES
“O grupo tem a preocupação de saber que época é que quer representar”, explica a presidente, ao referir que se reproduzem os trajes desde o início do século XX, “da forma mais fiel possível”, seguindo os registos históricos, nomeadamente fotográficos. Mas, alerta, “há que ter o cuidado de não ridicularizar os nossos antepassados e tradições. Se vamos retratar uma romaria, há que vestir os trajes de festa e não o da monda e do sacho às costas”, exemplifica Leonor Narciso.
Actualmente não há um único espectáculo onde sejam interpretados apenas as danças e os cantares. “Recusamo-nos a fazê-lo nessas condições. Ou nos deixam mostrar os quadros com as tradições da terra e as danças e cantares como complemento ou não há espectáculo”, garante Leonor Narciso. E explica: “É uma questão de etnologia e de identidade, que nós temos o dever de preservar”.
Depois das eleições, há duas semanas
Sangue novo para preservar tradições
Depois de eleita, no último dia 20, para mais três anos à frente dos destinos da Casa do Povo do Paul, Leonor Narciso salienta uma das novidades: há mais jovens nos cargos directivos. Segundo explica, “é necessário sangue novo” para, no futuro, dar continuação às tradições do grupo. “Espero aprender com eles e ensinar-lhes muita coisa, para que não se perca o espírito deste rancho”, realça. “Um dia, quando eu sair da Casa do Povo, esta casa não pode parar, até porque já tem um imenso património tanto em edifícios, como de âmbito cultural”, adianta. No total, Leonor Narciso conseguiu integrar seis jovens na nova direcção, todos já pertencentes e membros activos nas actividades da colectividade.
Para além desta, levanta um pouco o véu de um dos projectos, que apesar de estar em fase embrionária, já suscita entusiasmo no seio do grupo e que se relaciona com o objectivo anterior. Trata-se de intercâmbios internacionais de jovens, através do Instituto Português da Juventude. Para tal, “precisamos de pessoas mais novas que exponham os seus interesses de forma a cativar os jovens estrangeiros a visitarem o Paul”.
Outro projecto que não passa esquecido nas propostas para os próximos três anos de mandato de Leonor Narciso é o “Chão do Canto”, uma mostra etnográfica que pretende ilustrar o ciclo da vida tradicional e promete “integrar (o espectador) na vivência do povo”. O espectáculo representa o Natal, passando pelo cantar das Janeiras, entrudo, período pascal, retorno às lides agrícolas, finalizando com a Romaria da Senhora das Dores, em Julho. Pela abrangência das tradições, a mostra decorre ao longo de duas horas e, para a presidente, “é o mais completo do rancho, pois representa todas as raízes do Paul”.
Festival vai para a sexta edição
“Sons da Terra” regressam com workshops
Também o festival “Sons da Terra” tem continuação e está já agendado para o fim-de-semana de 21 e 22 de Julho, um pouco mais tarde que o habitual (o mês de Junho) devido às actuações agendadas, nomeadamente, do grupo de bombos do rancho, que trabalha em parceria com a companhia de teatro Viv'Arte, recriando feiras medievais por todo o País. Nesta sexta edição, o festival regressa com algumas novidades: workshops gratuitos, na área da percussão e gaitas de foles, que irão decorrer no sábado. Os “Sons do Vagar” (vozes com contrabaixo), um grupo de gaitas de foles e os anfitriões - em que se incluem os bombos, as adufeiras, os “Folia Tradicional” que (misturam música tradicional com sons celtas) e os “Tralha Velha” - irão actuar na tarde de domingo.
Concurso “Aldeia mais Portuguesa”
Quando o Galo de Prata voou para Monsanto
A história foi passando de boca em boca entre os paulenses. Segundo contam, em 1938, o Galo de Prata – símbolo atribuído ao vencedor do concurso “Aldeia mais Portuguesa” - foi para Monsanto, “porque um dos júris era de lá e influenciou a decisão dos restantes”. O concurso foi organizado pelo Secretariado Nacional de Informação (SNI), órgão do Estado Novo, responsável pela construção da imagem cultural de Portugal (principalmente no âmbito internacional).
“O Paul foi roubado”, uma teoria que inspirou vários poetas, nomeadamente José Rocha, que até escreveu uma marcha sobre o resultado do concurso. Com o título “Cantando espalharei por toda a parte”, escreveu numa das estrofes: “Ainda bem que não tens «galo de prata», Podia alguém julgar que era de lata, E tu mereces bem um «galo de ouro»”. Segundo Leonor Narciso, esta situação deu azo a disputas entre as duas aldeias durante muitos anos. “Aqui ninguém podia sequer ouvir falar em Monsanto, mas essa rivalidade já passou”.
Ficha Técnica
Fundação: 1938
Morada: Beco do Quebra Costas, nº 5, 6215- 445 Paul
Sócios: 200
Quota anual: Seis euros
E-mail: cppaul@sapo.pt
4 Rebolos:
As eleições na C. do Povo, sempre foram, discretas e com poucos votantes, porque será?
6/6/07 08:29Só votam praticamente os eleitos para as direcções.
Interessante.
Lembro-me do "renascimento" do rancho do Paul, no tempo do Zé Geraldes, esposa, Aires Lua, etc.
12/6/07 08:50Com grande "carolice" e esforço, deram vida ao rancho.
Alguns que hoje ainda estão no rancho ou na direcção, conviveram e começaram com eles.
No entanto, quando se fala no trajecto do rancho do Paul, muitas vezes são ignorados.
Porquê??
Queria dar os meus sinceros parabéns à presidente reeleita e restantes orgãos sociais.
12/6/07 19:48quanto ao resto os cães ladram e a caravana passa..............
As eleições nesta casa fazem lembrar os paises de partido único...
14/6/07 18:06Enviar um comentário