20 janeiro 2008

A Matança do Porco (I) - Introdução

"Bácoro em Janeiro com seu pai vai ao fumeiro"
Dito popular


"Matança do porco", iluminura do Livro de Horas de D. Manuel I
Século XVI


Ao longo de milhões de anos de evolução, o que permitiu ao Homem a sua sobrevivência foi a adaptação ao meio ambiente, através da criação de artefactos e utensílios, que lhe permitiram o domínio sobre a natureza e a fauna, podendo assim alimentar-se. Tendo já adquirido meios e técnicas de agricultura, o ser humano começou a adoptar a criação de gado para alimentação. Sobrevivendo a agricultura e a pastorícia ao correr do tempo e dos séculos, ainda hoje é tradição, ainda que já muito abandonada devido às exigências de higiene e segurança alimentares europeias e talvez por comodismo (a carne do talho e dos supermercados é sempre muito mais acessível e não implica encarar todo o processo ético e deontológico do sacrifício de animais, ainda que para alimentação), a Matança do Porco.

Já na época romana os porcos eram criados para abate, mas a sua função na cultura imperial romana era mais de aspecto ritual e não alimentar. Deste modo, a prática remonta a tempos medievais e, em Inglaterra, a época de matança (conhecida por Yule) iniciava-se em Setembro. Posteriormente, a Igreja católica transformou o ritual pagão numa festa cristã, transportando a manifestação para a época do Natal, passando a ser conhecida por Yuletide. No entanto, apenas as classes mais abastadas tinham acesso à carne de porco e as populações rurais viviam essencialmente de cereais, vegetais e alguma gordura animal.

Em Portugal, apesar da matança do porco ser antiga e estar bastante enraizada, as limitações económicas da maioria da população não permitiam a criação de suínos, estando essa possibilidade apenas acessível aos mais ricos. Mas a partir de meados do séc. XX o poder de compra da população rural aumentou substancialmente e as famílias começaram a proceder à criação de porcos e à matança de pelo menos um por ano.

A matança do porco reveste-se de aspectos religiosos oriundos de crenças populares que foram passando de geração em geração. Por exemplo, as mulheres e crianças não costumam estar presentes no cenário de matar o animal pois, sendo mais sensíveis ao acto, poderiam perturbar o matador (geralmente um homem que não pertencia à família e mais experiente na matança do animal) e o seu desempenho, acreditando-se que o comportamento das crianças e mulheres tornaria a morte do animal mais prolongada e dolorosa. Haveria também quem depositasse, em forma de cruz, o sal no fundo do alguidar que recolheria o sangue do animal, sendo, deste modo na crença popular, purificado.

De qualquer modo, a tradicional Matança do Porco, em Portugal, visa sobretudo o convívio social, a festa, a abundância, a partilha, a dádiva, o fortalecer de laços familiares e de amizade. Apesar do factor económico já não ser o principal motivo para a matança do porco, a prática resiste às mudanças nas comunidades pela necessidade de reafirmação da identidade local.
(Continua)

"A Matança do Porco", Obra de Carlos Calado
Museu Etnográfico da Erada


Fontes consultadas:
ANTUNES, Francisco, 1995, Para além da memória, Ed. Civis, Lda;
NOGUEIRA, Sandra, Da Banca da Matança aos Enchidos, disponível em http://www.geocities.com/sandrix65/Matanca.pdf;

http://pt.muestrarios.org/b/a-matan-a-do-porco.html
http://antropologia.com.sapo.pt/matanca.htm
http://rosarioandrade.wordpress.com/2005/12/05/a-matanca-do-porco-i/

3 Rebolos:

Anónimo disse...

Ainda me lembro da matança do porco na casa dos meus avós. Sinceramente, não gostava. O grunir do porco irritava-me e ficava indisposta se visse a bacia com o sangue do porco!
Seguiam-se as morcelas, dp as chouriças de carne e finalmente as farinheiras.

Enfim... uma tradição completamente perdida na minha família como em tantas outras.

20/1/08 18:45
Anónimo disse...

Lá está, o porque de mulheres e crianças não assistirem à matança do porco. São seres mais frageis, máis sensíveis, a quem um acto de sacrificio não passa despercebido...
É, de facto, pena que mais uma tradiçao se tenha perdido...
Revitalize-se a tradiçao, voltem a haver matanças nas aldeias e vilas, promova-se todo o convivio que envolve o agarrar, o por no banco e atar, a sangria, o chamusco e a raspagem, o pendurar no chambaril e o ponto alto do dia - a jantarada com a "fussura" e o salutar convivio findo o sacrificio!!!!

Saudaçoes

21/1/08 13:24
Anónimo disse...

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