26 janeiro 2009
7 Regiões de Portugal: a Beira Interior
7 Regiões de Portugal: a Beira Interior
Como prometi aquando da apresentação da proposta das 7 regiões, que tem colhido amplos elogios por parte de pessoas dos vários quadrantes geográficos do nosso país, procederei a partir de agora à apresentação, uma por uma, das regiões propostas. Começarei pela região de onde sou natural, e que me é mais familiar, a Beira Interior.A Beira Interior é uma região que resulta da moderna união da antiga província da Beira Baixa, com a parte da antiga província da Beira Alta correspondente, grosso modo, ao distrito da Guarda (exceptuando os concelhos de Vila Nova de Foz Côa e de Aguiar da Beira, das regiões de Trás-os-Montes e Beira Litoral, respectivamente).
É constituída por 25 municípios: Almeida, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Fornos de Algodres, Gouveia, Guarda, Manteigas, Mêda, Pinhel, Sabugal, Seia e Trancoso (distrito da Guarda), Belmonte, Castelo Branco, Covilhã, Fundão, Idanha-a-Nova, Oleiros, Penamacor, Proença-a-Nova, Sertã, Vila de Rei, e Vila Velha de Ródão (distrito de Castelo Branco), Mação (distrito de Santarém) e Pampilhosa da Serra (distrito de Castelo Branco).
História
Identidade Regional
Ao contrário do que é usual pensar-se, a Beira Interior não é uma unidade regional recente. Já no século XIII, em 1299, D. Dinis, no seu testamento, ao dividir Portugal em regiões, cria a região da Beira, correspondente aos actuais distritos da Guarda e de Castelo Branco, e a parte do de Viseu. Nos séculos XV e XVI, as bases da divisão do Litoral e do Interior da Beira mantêm-se. No século XIX, quando se começaram a desenhar as divisões em províncias tradicionais, aparece-nos uma Beira Baixa alargada, que correspondia aos distritos da Guarda e Castelo Branco, ou seja, praticamente ao território da Beira Interior moderna. Quase todas as divisões propostas pelas reformas liberais propunham, embora com configurações diferentes, a divisão entre o Litoral e o Interior da Beira. No século XX, no período do Estado Novo, várias reformas avançam sempre no sentido da divisão das Beiras em Litoral e Interior: ora com 3 províncias (Beira Alta, Baixa e Litoral), ora apenas com a Beira Litoral e a Beira Interior, um modelo moderno que é apoiado pelos maiores geógrafos da época, e seguido na adopção do III Plano de Fomento (1969-1973). Após o 25 de Abril, a Beira Interior aparece na primeira proposta de Regionalização, em 1976. A Beira Interior aparece também como região postal (códigos postais 6000 a 6999), de turismo e telefónicas (grupo de indicativos começados por 27). Com a adesão à CEE, são delimitadas as 7 Regiões Agrárias, entre as quais se encontra a Beira Interior, modelo adoptado pela CEE para Portugal. Em 1998, neste seguimento, nas propostas de regionalização do PS e da CDU (registe-se o boicote do PSD e do CDS), a Beira Interior é região consensual, e é apresentada a referendo, onde a campanha de desinformação lançada pelos anti-regionalistas acaba por dar o seu fruto, acabando por se registar, apesar da afinidade das populações com a região proposta, uma rejeição não à região em si, mas à Regionalização em princípio, já que esta não foi bem explicada aos portugueses. Hoje em dia, a Beira Interior é já uma região entrosada entre os seus habitantes, tendo bastante aceitação nesta zona como uma boa solução de regionalização para Portugal. Apesar de tudo, é preciso convencer os beirões-interiores das vantagens da Regionalização para a sua região, já que, apesar da unidade Beira Interior ser bastante aceite, a Regionalização como princípio de desenvolvimento ainda não é bem entendida por estes lados.
Património
A Beira Interior é a região por excelência do património. É uma das regiões com mais castelos e fortalezas, cerca de 45 no total, a sua grande maioria em bom estado de conservação. Conserva um ambiente medieval, que aliado às suas paisagens bucólicas, a torna um destino turístico por excelência. 12 dos 13 núcleos históricos recuperados ao abrigo do programa “Aldeias Históricas de Portugal” localizam-se na Beira Interior: Almeida, Castelo Mendo e Castelo Bom (concelho de Almeida), Sortelha (c. Sabugal), Castelo Rodrigo (c. Figueira de Castelo Rodrigo), Marialva (c. Meda), Linhares da Beira (c. Celorico da Beira), Belmonte, Trancoso, Castelo Novo (c. Fundão), Idanha-a-Velha e Monsanto (c. Idanha-a-Nova). As cidades são também muito ricas em património, de várias épocas e estilos arquitectónicos. Aqui destacam-se a o centro histórico e a Sé da Guarda (gótico-manuelina, séc. XIV-XVI), o Paço Episcopal de Castelo Branco, e as antigas fábricas da Covilhã. Imperdíveis são também os centros históricos de Sabugal, Trancoso, Celorico da Beira, Gouveia, Belmonte, Penamacor e Fundão, a fortaleza em forma de estrela de Almeida, a jóia da arquitectura militar portuguesa, e a antiga cidade episcopal de Pinhel. De outras épocas, há ainda múltiplas antas, sepulturas antropomórficas e construções romanas (destaque para Centum Cellas, em Belmonte). O património tem vindo a ser recuperado e conservado pelas autarquias e governo, e assume um papel fulcral na vocação turística da Beira Interior. Sente-se a falta de uma autoridade regional que articule as diferentes políticas de turismo e património, e divulgue verdadeiramente esta região belíssima, mas que a maioria dos portugueses ainda não descobriu.Geografia
Território e População
Segundo o INE, em 2007 a Beira Interior tinha 368 818 habitantes, correspondendo a uma densidade populacional de 29,4 hab/km2. A população concentra-se maioritariamente nas cidades e vilas, sendo que, se até agora se tem verificado um ligeiro aumento na sua população, desde o início do século que a população tem estagnado ou mesmo diminuído, mesmo nas maiores cidades. Actualmente, segundo o anuário 2007 do INE, existem 10 cidades na Beira Interior: Covilhã (24 772 hab.), Castelo Branco (30 649 hab.), Guarda (26 061 hab.), Fundão (8 369 hab.), Seia (5 702 hab.), Gouveia (3 759 hab.), Pinhel (2 578 hab.), Sabugal (2 362 hab.), Trancoso (2 348 hab.) e Meda (2 193 hab.). As vilas são outro foco de concentração de população. Para além das sedes de concelho, destacam-se ainda Vilar Formoso (Almeida), Alcains (Castelo Branco), Tortosendo e Teixoso (Covilhã). Verifica-se um acentuado envelhecimento da população, que, em alguns concelhos, diminuiu cerca de 15% só entre 2000 e 2007. Grande parte das aldeias da região tem menos de 200 habitantes, e estão em risco de ficar com população zero a curto/médio prazo. Contas feitas, apenas 11,7% dos cidadãos da Beira Interior tem menos de 15 anos, enquanto os idosos (mais de 65 anos) representam já cerca de 25,6%. Esta realidade levará, portanto, a uma diminuição acentuada da população da Beira Interior nos próximos anos. São, portanto, necessárias políticas regionais de fixação de empresas e população, que não estão ao alcance das possibilidades das autarquias nem têm sido preocupação dos sucessivos governos.Recursos naturais
Património Natural
O património natural é um dos cartões de visita da Beira Interior. As suas paisagens bucólicas únicas atraem visitantes de todo o país. A neve, rara em Portugal mas frequente na Beira Interior, é o principal atractivo. É nesta região que se situa a maior área protegida do país, o Parque Natural da Serra da Estrela, que contém valores naturais relevantes, incluindo algumas espécies de flora únicas no país; na fauna destaca-se o lobo (Canis lupus), o javali, a lontra e a raposa (Vulpes vulpes). Na Torre, situa-se a única estância de esqui natural do país, a Estância de Esqui Vodafone. Na zona norte da região, situa-se o Parque Natural do Douro Internacional, famoso pelas suas arribas dos vales dos rios Douro e Águeda, onde abundam as aves. Nos concelhos do Sabugal e Penamacor, localiza-se o Reserva Natural da Serra da Malcata, caracterizado pela sua fauna única, onde prontificam espécies como o lobo e a raposa. Foi criada para servir de santuário para o lince-ibérico, espécie em perigo extremo de extinção. A sul, o Parque Natural do Tejo Internacional, caracterizado pelos seus bosques de sobreiros, azinheiras e salgueiros, e por populações únicas de cegonhas, águias, abutres, lontras e veados.Economia
Sector Primário
Apesar dos solos da Beira Interior não serem muito produtivos, a agricultura é, ainda hoje, a principal actividade de muitos dos habitantes da região. A Beira Interior produz produtos muito apreciados, alguns deles classificados pela União Europeia. Destacam-se os vinhos da Beira Interior, a cereja e a maçã da Cova da Beira, e o azeite da Raia. O cereal mais abundante é o centeio. A pecuária é um actividade com condições de prosperar e ser rentável, tal como acontece do lado de lá da fronteira, mas apenas se houver real interesse do país e da região em que tal aconteça. A criação de gado bovino, ovino, suíno e caprino encontra aqui condições óptimas para se praticar. A exploração de madeiras, nomeadamente o pinheiro e o carvalho, é também praticada com alguma rentabilidade A Beira Interior tem, assim, condições para ser um dos pilares da agricultura portuguesa. Porém, neste momento, a população agrícola encontra-se envelhecida, o que poderá hipotecar o futuro da actividade nesta região.
Sector Secundário
A indústria na Beira Interior vive tempos de crise. Se, em tempos, a região foi um importante pólo industrial em termos nacionais, nos últimos anos, devido à falta de incentivos à fixação das empresas no interior, e à crise nacional e internacional, muitas empresas fecharam ou estão em risco de fechar, aumentando consideravelmente os níveis de desemprego da região que, se nada for feito, correm o risco de ultrapassar os 10% nos próximos tempos. Actualmente, os principais sectores industriais presentes na Beira Interior são os têxteis, os componentes para automóveis e a agro-indústria.
Sector Terciário
O sector terciário tem-se desenvolvido nos últimos anos. Actualmente, a oferta em termos de serviços, principalmente na área do turismo, tem potencializado este sector na Beira Interior. Nas cidades, o comércio a retalho tem-se vindo a expandir, com a abertura de múltiplos supermercados, hipermercados e centros comerciais. Contudo, o comércio tradicional tem entrado em declínio.
Transportes e Comunicações
Posição Estratégica
Principais vias de comunicação
A Beira Interior tem sido, nos últimos anos, finalmente alvo de modernizações na sua rede rodoviária. Assim, é servida por cerca de 245 kms de auto-estradas e algumas vias rápidas, que conferem à região boas acessibilidades com o resto do país e da Europa. Na Beira Interior confluem os eixos rodoviários europeus E80 e E802. As auto-estradas A23 (Torres Novas-Guarda) e A25 (Aveiro-Vilar Formoso), as vias-rápidas IC8 (Pombal-Proença-a-Nova) e IP2 (Fratel-Castro Verde) e as estradas N 17 (Coimbra-Celorico da Beira), N 102 (Macedo de Cavaleiros-Celorico da Beira), N 221 (Miranda do Douro-Guarda) e N 240 (Castelo Branco-Segura) constituem a rede fundamental que serve a região. Assim, os principais pontos de intersecção rodoviária são a Guarda, Castelo Branco, Celorico da Beira, Vila Velha de Ródão, Vilar Formoso e Segura, sendo fácil aceder, a partir deles, ao Porto, Lisboa, Coimbra, Viseu, Bragança, Portalegre, Salamanca, Cáceres, Madrid e à fronteira franco-espanhola de Hendaye/Irún. Em termos ferroviários, a região é servida pelas linhas da Beira Alta (Pampilhosa-Vilar Formoso) e da Beira Baixa (Entroncamento-Guarda). A Guarda, como ponto de intersecção das duas linhas, é o principal ponto ferroviário da região. Actualmente, as linhas estão a trabalhar a meio-gás, devido ao seu mau estado de conservação. Ainda assim, efectuam-se os serviços Intercidades de passageiros Guarda-Lisboa e Covilhã-Lisboa, e o serviço internacional Lisboa-Guarda-V.Formoso-Paris. Existe um aeródromo na Covilhã.Em suma, a Beira Interior é uma região com grande potencial, mas que tem sido desprezada continuamente pelos governos centrais, por pura falta de vontade política. Se tudo continuar como está, e mesmo com a regionalização sob o mapa das 5 regiões-plano, a Beira Interior continuará dependente do Litoral, que desconhece as realidades, e desvia os fundos e as medidas que são indispensáveis à sobrevivência da Beira Interior, e acabará por morrer, como já está a acontecer aos poucos com a maioria das aldeias e vilas. A única forma de reverter esta situação e evitar a morte da Beira Interior é uma regionalização que atribua notoriedade e poder efectivo à Beira Interior, de modo a que aqui se possam aplicar as melhores políticas, que se coadunem com a realidade específica desta região.
Afonso Miguel
Nota: Excelente !!!!!!
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